Estava eu a voar entre dois homens, fartos homens. Eles não
sabiam de nada.
Chorei entre dois homens fartos.
Chorei de saudade do homem que ficava em terra firme. Só ele
sabe me entender com tantas rasuras.
Saudade arranca a alma da gente ou a coloca no lugar?
Sim, é uma pergunta!
E, sim, tanta sede é uma surpresa. Havia um mar entre nós
dois, mar de tantos carmas e de tantos sonhos.
Chorei com os olhos que viam aquele lugar que ele sonhava em
ver.
Inexplicavelmente, lá do outro lado do mundo, em calçadas
que ele nunca andara, cada pedaço de gente/de sonho/de pedra era a memória
dele.
Não sei o que trarei de volta. Talvez saiba: um mar, olhares
alemães, turcos, árabes, brasileiros, brasileiros repletos de buscas... Os
olhos de uma menina que não se sentia completa cativaram meu afeto... Eu era um
pedaço solto e incompleto a reconhecer pedaços de ruínas, de muros, de arrimos,
de reconstruções. Pedaço cheio de saudade, essa palavra engraçada de tão
dolorida.
Os pedaços de muros estavam por todo lado, ainda latentes,
fortes nos olhos daquela gente. Gente apressada e objetiva. Gente dos olhos
cheios de amor e dos pés sedentos por um convite à dança.
Meu peito remexido cantou saudade todo o tempo, é preciso
ser forte para aceitar novos caminhos, desatar nós sem deixar de se ter o
carinho – aquele incondicional.
Meu canto quer derrubar todos os muros.
Ás vezes os muros estão tão perto, entre abraços dos que
mais amamos. È preciso desatar os nós para derrubar os muros, é preciso seguir
em frente e, sobretudo, seguir acreditando que o que te mói o peito não ergue
felicidade. Saber dizer adeus também é uma forma de encontro.
Choro na volta, de saudade dos sorrisos que ficaram em
Berlim e de saudade de mein schatz.
As pessoas nos tocam sem nem saber e nem sempre eu sei
demonstrar o quanto gostaria de cativá-las... Tenho cá comigo um sorriso calado, mas minha pele sente tudo. Pé de vento diz até breve.
Tenho sede daquele abraço que me compreende. De todos os
olhares ternos que encontrei no mundo, o do homem com quem caminha meu
pensamento é o que mais me fez querer ser doce. Mein schatz é um espelho do meu
lado bom. A bondade é de longe o seu maior legado em mim.
Sigo aprendendo a sorrir enquanto choro.
Berlim me ensinou muito de mim e as pessoas que ficaram lá
são a lembrança mais preciosa desse voo, nem pimenta tira a doçura que a
generosidade proporciona (ou generosidade é refresco para todo e qualquer
olhar).
Estranhamente, a meu modo, a meu tempo e em minha dureza cada
vez mais malemolente eu absorvo e observo.
Agradeço um tanto.
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