quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Valsa para Maria

É impressionante o quanto é belo uma mulher triste.
Quanta sedução cabe na sua tristeza.
Quando ela passa pelo viaduto...
Cabeça erguida, peito aberto, sentido contrário ao dos carros.
Quando ela passa pelo viaduto...
Pensamento no vento, passos serenos como se fosse alcançar o céu azulado e fosco.
Embargada de profundezas, ela passa.
Eles passam por ela ouvindo seu pulsar, sua respiração...
A mulher é um mistério que só seus olhos dizem.
[...]

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No hoje

"E tenho muito sono de manhã..." Pelos poros, pelos dentes, pelos dedos, pelo meu sorriso no canto da boca (discretamente escancarado) transborda tudo o que sou - amor! Somos feitos da mesma carne enraizada e avoadeira... "Eu sou amor da cabeça aos pés!" (!) [...]

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ignóbil âmago

Meu coração é grande e meu peito escancarado.
Há em mim um brio manchado, entrecortado de tanta vontade e sina.
Em meu céu cabem muitos olhos, sorrisos, bocas, dentes, mãos, dedos, pés, coxas, panturrilhas, quadris e línguas.
Mas não se enganem e nem se assustem, não me dou a nenhum desses recortes passionais.
Gosto de ser assim: inteira, plena em todo o sangue que habita minha carne.
É meu todo o meu sangue!
Eu pertenço a mim mesma e a toda liberdade que eu aguentar carregar.
Minha bandeira é pesada, mas meu caminhar é leve já que sangro meus sonhos todos os meses em perfeita comunhão de mim.
Eis que me contradigo fugazmente, pois em meio a tanta anatomia e física quântica há aqueles a quem me empresto, me entrego como sou: dual em conta-gotas.
Aqueles tem meu prazer instantâneo em vários tons de violeta.
Eles tem meus segredos vermelhos, minha voz azulada, meus desejos brancos.
Eles tem meu enredo alaranjado, meu clímax negro, minhas reflexões amareladas, meus sorrisos no canto da boca cor de ameixa, meu pulsar esverdeado, minha pele multicolor.
E, para além, eles – aqueles olhos pretos ensolarados – tem nos lábios minhas lágrimas quentes e sem cor alguma... minha alma nua e sem cor alguma... minha falta de pudor, meu infinito.
Aqueles olhos de sol...
Aqueles olhos pretos ensolarados tem meu pensamento diáfano, translúcido, sujo de tão límpido e, ainda assim, permaneço minha - mais do que nunca.

“Se você deixar o coração bater sem medo”

Acordei hoje como se toda a minha vida tivesse amanhecido... Olhos abertos para o que vier!
Eu estou protegida com as vestes de meu pai, búzios, contas e fios de prata.
Eu estou desarmada, flor de lótus brotando do barro, girassol no rastro do sorriso, ventania em movimento, água corrente lavando os rumos.
Os deuses, todos eles, moram no centro do meu peito racional, em movimento eles gritam... O berro de luz ecoa em todo canto e em todo cantar.
É a serenidade que irradia o arco-íris de minha voz, de meu prumo.
Eu não sei ser outra coisa senão arte, senão isso. Do contrário, não vivo.
Na ponta da espada de meu rei eu danço com a vida, escancaro minha ancestralidade.
Giro os dias sendo eternamente pé de vento na poeira da estrada.
Eu sou, eu sou, eu sou!
Eu sou a essência divina do eu sou!
Eu sonho, eu sonho, eu sonho!
E nada mais é preciso.
Eu agradeço...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

‎"...Meu amor, tudo em volta está deserto! Tudo certo como dois e dois são cinco..."

Cada manhã uma melodia, uma poesia ou um soluçar me ronda o peito... Meu esterno grita! Para se emocionar há que se escancarar os anseios, os medos, vasculhar as entranhas!
Clareia e deixa clarear! Sigo fazendo o que sinto, enloucrescendo!
Sigo fazendo o que sei: voo!!!
No gozo daqueles olhares que só se escutam pela manhã me reconheço, redescubro...
Ouso mais um voo, mas creio que um dia vou aprender a andar de bicicleta, a nadar e a tocar violão como nos arrebatavam aqueles saxofonistas negros...
Devaneio...
Só sei ser pé de vento!

*