quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Do calor de tantos eus

Em certas noites me rasgo inteira, bebo do desconhecido até o fundo do poço, até o fundo de mim... Tudo é um divino mistério.
Agora entendo o verso desgarrado de Baiandeira e o descuido de Guimarães.
Uma dor profana me recompõe. Sou nada mais que o meu peito entrecortado, descabido de si mesmo, ensimesmado de si sentir sangrando. Meu peito pulsa quando sangra, estou viva!
Em certas noites o desconhecido me habita como um carma, como uma chaga de idealismos passados-presentes-futuros, flores e frutos horizontalmente selados num elo vertical.
O desconhecido é um de meus eus, é meu dual, meu espelho inevitável... mas a cura de que necessito só encontro em mim mesma, em meu eu não decifrável... só eu posso ser minha cura encarnada. Sou minha atadura surda-muda e certas noites são sensorialmente ideais.
Não há mais lugar para fugas e não há o “se” do que há de vir, é uma oração cristalizada. Estou eu assim: crua e arrebatada. Entregue no agora e somente no agora.
Não há mais lugar para culpas nem medos. Isso que me queima é meu. Só eu posso me permitir o transmutar.
Em certas noites estamos fadados ao fogo do vento, assim somos!
Em certas noites – em carne – solitárias faz um calor danado, um calor tamanho.
E pela manhã ainda torpe regozijo-me em ascendência...
Eu clamo pela fé no desejo.
Inquietadora.
Inquietador.
Inquieta.
Dor.
Quieta...

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