quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ignóbil âmago

Meu coração é grande e meu peito escancarado.
Há em mim um brio manchado, entrecortado de tanta vontade e sina.
Em meu céu cabem muitos olhos, sorrisos, bocas, dentes, mãos, dedos, pés, coxas, panturrilhas, quadris e línguas.
Mas não se enganem e nem se assustem, não me dou a nenhum desses recortes passionais.
Gosto de ser assim: inteira, plena em todo o sangue que habita minha carne.
É meu todo o meu sangue!
Eu pertenço a mim mesma e a toda liberdade que eu aguentar carregar.
Minha bandeira é pesada, mas meu caminhar é leve já que sangro meus sonhos todos os meses em perfeita comunhão de mim.
Eis que me contradigo fugazmente, pois em meio a tanta anatomia e física quântica há aqueles a quem me empresto, me entrego como sou: dual em conta-gotas.
Aqueles tem meu prazer instantâneo em vários tons de violeta.
Eles tem meus segredos vermelhos, minha voz azulada, meus desejos brancos.
Eles tem meu enredo alaranjado, meu clímax negro, minhas reflexões amareladas, meus sorrisos no canto da boca cor de ameixa, meu pulsar esverdeado, minha pele multicolor.
E, para além, eles – aqueles olhos pretos ensolarados – tem nos lábios minhas lágrimas quentes e sem cor alguma... minha alma nua e sem cor alguma... minha falta de pudor, meu infinito.
Aqueles olhos de sol...
Aqueles olhos pretos ensolarados tem meu pensamento diáfano, translúcido, sujo de tão límpido e, ainda assim, permaneço minha - mais do que nunca.

4 comentários:

  1. Eles vieram se encontrar
    para encontrarem a si
    cada um se encontra
    em cada desencontro
    Ele veio para dar, tudo que ela já tinha
    Ela veio para lembrá-lo o que ele já sabia

    Amor

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  2. Ignóbil âmago... Colorido âmago! Como já disse alguém, "a vida tem a cor que a gente pinta!"

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  3. E é mesmo Fulô! Vejo tanta cor no ignóbil, cores infinitas... uma aquarela repleta de sentimentos!

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