quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

DIAS QUENTES

Havia um azul que pairava no ar mesmo quando era noite
Pés que desfolham ao percorrer corais
Pés que nasceram enraizados, mas gostam mesmo é da estrada
Eram pés vento que se banhavam naquela areia pasmada
Um tempo parado, um vento cortante, olhos cheios de mundo
Havia um azul que pairava no ar mesmo quando era noite
Perguntas soltas a girar o Orí e a mira
Mira o caminho traçado, mira o presente tão infinito de vidas
Perdão, impulso, renovação, ócio a florescer o amar
O céu é grande demais, Xauê Epá Babá!
Havia um azul que pairava no ar mesmo quando era noite
O que significa imensidão quando céu e mar se confundem?
Estar onde sempre se quis estar também tem um quê de dor
Sorrir com a alma também faz parte do doer e do seguir em frente
Essas memórias ficam sorrindo na gente
Havia um azul que pairava no ar mesmo quando era noite

Só agradeci.


terça-feira, 13 de outubro de 2015

NA BOCA DO GATILHO

Minha arma é a palavra!
Bala-poesia-gatilho-verbo...
Escolhi falar com sapiência e gritar se for preciso.
Não vou mais guardar palavras, não vou mais tropeçar na invisibilidade.
Até o fim eu vou soltar tudo que guardamos aqui há 500 anos ou mais... ou mais...
E se as palavras cessarem eu soltarei a voz com meu cabelo CRESPO, com meus olhos INDÍGENAS, com minha pele MESTIÇA e com minha bunda NEGRA.
Sem pedir permissão eu vou verborrasgar e verborragir até o fim...
Para que um dia essa luta ecoe, para que um dia essa luta acabe e, transmutad@s, possamos ESSENCIALMENTE amar.

Esse escrito pintado de resistência é por que nessa semana que passou foram somadas três horas de tiros na porta da minha casa. Quem atira e morre são os meninos. 13, 14, 15, 16 anos e fim. Essa história começou antes mesmo da colonização desse Brasil.  A casa grande não descansa e a escravidão ainda ecoa por aqui. Engasgo. De cara com a bala não há o que fazer. Tem que se fazer é antes, mas tem que se fazer. Tenho só um peito cheio de poesia e esse texto não é protesto nem nada, esse texto pode ser até mesmo utopia de estudante de uma universidade federal qualquer, mas esse texto pode ser acesso também e quem tem acesso toma as rédeas de sua própria vida. Esse texto é pra entender que as falas d@s outr@s são nossas também. Tenho só um peito cheio de poesia e olhos que veem... Tem muita gente precisando ser vista, muita gente. Tenho só um peito cheio de poesia e não vou pedir licença pra disparar essas palavras.


Bala-poesia-gatilho-verbo... na boca do gatilho minha arma é a palavra!

sábado, 10 de outubro de 2015

ManifestA

Qual... 
Mulher se (re)inventa a cada esquina, a cada curva branca centro-sul.
Não importa se pelada ou de burca, no olho da rua mulher é nua!
Mulher nua manifesta vozes diversas.
No oco da linha do tempo (re)existimos.
Outrora esculachadas, queimadas, segregadas, coisificadas, condenadas, silenciadas... sem nome diante do patriarcado.
AGORA (re)nascemos qual mulher bruta-flor, mulheres desdobráveis.
"Sexo frágil é o caralho", quero ver quem é que vai carregar essa bandeira pesada e, assim como nós mulheres, ainda ter brilho no olho e peito aberto. Qual é seu grito?
"E a menina ainda dança!"
Qual...
Mulher é força enraizada, segue envergando sem quebrar.
Eu, mulher, "cara de Camila Pitanga reivindico AGORA meu direito de ser negra, reivindico meu direito de ter e ser black".
A minha bunda e a minha opinião são luxos exclusivamente meus.
Negra soy e não Carolina Dieckman - uma peruca loira e lisa. To black or no to black? Negra sim!

Vai ter mulher andando nas ruas mesmo sendo noite, mesmo sendo invadida com palavras e olhares ejaculados - sem pedir licença - nas nossas caras!
Mulher segue mesmo com tanto autoritarismo nesse país de samba e gol, mesmo com tantas fronteiras, mesmo com tantas barreiras, mesmo vendo que o Estado ainda não é laico e lamentando a falta de leis que nos guardem. Homofobia, transfobia, racismo e feminicídio são crimes sim. Olha em volta, ouça os relatos, basta.
Mulher, segue! Por favor, segue! 
Mulher segue mesmo vendo a polícia brasileira matar mais de três mil por ano.
Mulher segue mesmo com tantas filas e massas manobradas pela mídia, mesmo vendo uma criança negra ser apedrejada na cabeça por ser do candomblé (é por isso também).
Mulher segue entre espinhos, entre ameaças, entre perseguições, entre violações, entre olhares e mãos que tentam invadir, matar e retalhar.
A mulher segue e se (re)inventa para sobreviver. (Re)inventamos nossa visibilidade na história! 
Cicatriz um dia já foi dor, mas AGORA é marca pra lembrar de agradecer e ser guerreira todos os dias.
Mulher segue com graça, com garra, segue do jeito que ela quiser!
Qual...
Mulher segue nua no olho da rua nua, absoluta, impetuosa e poderosa.
Vê se para um pouco e repara no que ela tem a dizer! 
"Tem mulher com a mão pro alto pra fazer revolução!"

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Criação

Por dentro, tatuagens que ninguém consegue ler. 
Por fora, uma coluna riscada de azul até o cóccix, um dia de sol, um espelho fora de ângulo, uma música em 7 e algumas cicatrizes. 
É que esse desenho da vida mora nas nossas próprias mãos. 
Teimo, ouso, abismo-me e crio eu mesma a criação.
Vida é risco e tem a cor que a gente escolhe. 
Viver por vezes rasga a gente e dói mesmo, mas se não cai a casca não há ser que voe.
O próximo risco é asa em pé de vento.
Meu coração é azul.


domingo, 6 de setembro de 2015

Lua Azul

Eu quis te dar uma canção
Mas, escuta menina, mira a lua
Que já traz no ventre a melodia
Deixa ser, mergulha e me escancara o riso
Seu olhar é prosa, farol e mel
Sem bebê-lo me consumiria
Menina mina de água
Signo de água que vem pra me contar
Que gente é pra se dar
Eu quis provar do teu olhar
Mas, escuta menina, quão profundo é mergulhar
O mar de amar nos despiu
Abissal é o luar de quem nessas águas se banhou
O olhar rasga e arrebata meu coração de poeta

Lótus enraizada
Fogo em água transformada
Há que ser inteira pra descobrir
Que depois do mais profundo é o mar
Que depois do mais profundo é amar

Sempre o mar

Nosso amor começou e terminou no mar.
Foi lá, sem nos darmos conta, que ele desaguou com as oferendas pra mãe d’água.
Era fevereiro.
Demorei seis meses para conseguir escrever sobre o que foi esse amor com gosto de sol, amor feito cavalo alado... Hoje: amor transformado.
Foi no encontro do rio com o mar que eu deixei esse amor abrir as portas do meu coração ainda endurecido.
Tanta paz, caminhos longos, mãos dadas... um alento na alma empoeirada.
Já disse, meu bem, seu maior legado em mim é sem dúvida a bondade.
Desse amor levo e quero o bem!
Sim, fomos felizes e selamos nossa união pelo poder da escolha e da verdade.
Pela escolha e pela verdade da felicidade é que, também, nosso amor se despediu... se despediu não, se transformou, é que elo  assentado em fogo não se desfaz.
Olhar pra trás é de mareiar olhar e encher o peito de gratidão.
O sal das lágrimas se faz feito gosto de mar, sempre o mar...
O mar me prega cada peça e meu coração inquieto serpenteia malemolente.
Isso deve ser por morar em minas montanhosas... é engraçado o que é o mar em mim.
Nosso amor se transformou em canto fraterno em um fevereiro melodioso vivido beira-mar.
Hoje aprendi a mergulhar.
Sou grata e as palavras escorrem em meu rosto com amor e gosto de sal.
(Des)carrego!


sábado, 5 de setembro de 2015

De subida ao pico

Piso e repiso o chão que abarca rostos de brio manchado
Memórias, afetos, construções, crateras, pó
Volto e revolto respirando o brilho entrecortado de minha cidade empoeirada
Para além do que meus olhos veem, há falta
Há cercas acerca de toda fagulha de liberdade
A geração de Ana já nasce cercada
São outras conexões que esses novos olhares alcançam
Já nascem sem ver o que é mesmo o pico do amor
Não vão ver nem sequer deslumbrar
O que é o pico livre sob a luz do pôr do sol